O Rei Davi e sua obra



D'us tinha ciência de que David acalentava o sonho de construir a Sua Morada, e, apesar de lhe negar o pedido, dá-lhe o mérito de se dedicar, até sua morte, aos preparativos para a construção. E para que não imaginasse não ser digno, D'us lhe promete criar uma dinastia eterna através de sua descendência. Todos os futuros reis legítimos de Israel, culminando com o Mashiach, seriam descendentes diretos do rei David. Com tal promessa, D'us lhe outorga uma honra jamais vista por nosso povo desde os dias de Aaron, o Cohen - a dizer, a condição de permanente hereditariedade. Tomado de júbilo pela grande honra, o rei David irrompe em cânticos de louvor e graças ao Eterno.


E, assim como prometera a David, D'us coroa de êxitos todos os seus feitos. Subjugando os inimigos do povo de Israel, o Rei consolida seu reinado. Foi profeta e um dos maiores conhecedores da Torá de nossa história. E, mais do que qualquer outro que o antecedera ou iria suceder, David conquistou o amor e admiração eterna de seu povo.

Responsável por compor as mais belas orações da liturgia judaica, foi, paralelamente, um bravo guerreiro e um governante iluminado. Diz o Livro de Samuel que "David distribuía justiça e bondade a todo o povo". Mesmo em tempo de guerra, era um ser humano exemplar, admirado até por aqueles a quem derrotou. Era conhecido por demonstrar respeito pelos inimigos; honrando a tradição judaica de santificação da vida, David ha-Melech providenciava o enterro dos inimigos caídos em batalha.

David abre as portas do arrependimento

O episódio mais intrigante na vida do Rei David envolve uma mulher de nome Bat Sheva. Uma leitura literal do Livro de Samuel indica que o Rei David tomou para si uma mulher casada, arquitetando a morte de seu marido para acobertar o que fizera. Espantoso para um homem da estatura moral do rei David. Mas o Talmud, em nenhuma instância apologético, afirma claramente que "aquele que disser que David pecou comete um erro" (Shabat, 56a) e que Bat Sheva estava predestinada a ser mulher de David desde o início da Criação (Sanhedrin, 107a).

Há provas que atestam que David não cometeu adultério: se Bat Sheva fosse casada quando David se uniu a ela, a Lei judaica o teria proibido de desposá-la ainda que já fosse viúva. A verdade é que naquela época, todos os integrantes dos exércitos que saíam às batalhas concediam previamente o divórcio a suas esposas, pois se não retornassem a suas casas, as mulheres poderiam voltar a se casar. Bat Sheva não fora exceção e recebera o divórcio de Uriah, seu marido.

Ademais, além de David tê-la desposado, o resultado dessa união foi o nascimento do rei Salomão, a quem coube o mérito de construir o Templo Sagrado, bem como de ser o primeiro de uma dinastia que culminará com o Mashiach. Isto é prova cabal de que o Rei não cometeu o pecado que lhe atribuem os que desconhecem os fatos.

Que erro teria sido, então, o seu, a ponto de despertar a "ira" Divina e lhe trazer tão imenso desgosto? David precipitou os eventos. Se tivesse sabido esperar, teria chegado o dia em que Bat Sheva seria sua mulher, mas ele se antecipou - e, por tê-lo feito, cometeu graves erros de julgamento - uma atitude inaceitável para um homem de seu calibre espiritual. Valendo-se de sua capacidade profética, David reconheceu em Bat Sheva a sua prometida. Mas, como revela o Zohar, não era chegado o momento certo para sua união, por isto D'us a deixara desposar outro homem, Uriah. E, ainda que seja verdade que Uriah cometeu um ato de insubordinação contra o rei David, merecendo, como era de costume à época, a pena de morte, o Talmud nos ensina que o Rei deveria ter deixado que o Sanhedrin julgasse o militar rebelde - e não tê-lo enviado à morte, em batalha.

O verdadeiro enigma desta história reside no seguinte: como poderia o rei David, o mais devoto dos homens, cometer tamanho erro, manchando assim sua reputação? Segundo o Talmud, o Rei pediu que D'us testasse a sua devoção como fizera com nossos patriarcas - algo que homem algum jamais deve fazer. No entanto, há outra explicação, mais generosa, para o incidente.

Como vimos acima, Bat Sheva estava destinada a ser mulher de David e a trazer ao mundo o rei Salomão e a dinastia messiânica. D'us poderia ter determinado que ela não desposasse Uriah ou que seu casamento com ele terminasse antes que David a conhecesse. Diz o Talmud que a Divina Providência engendrou o incidente daquela maneira para que o arrependimento de David servisse de exemplo a todos nós. Mesmo quando alguém comete um erro deplorável, D'us nunca lhe fecha os Portões do Arrependimento e do perdão. Ensinam nossos Sábios que D'us de fato levou David a errar para que este pudesse personificar, posteriormente, o modelo humano do arrependimento, fosse por sua própria contrição, fosse pela eloqüência e emoção contidas em seu dramático Salmo 51

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