AS ORIGENS DO RITO FRANCÊS-MODERNO

AS ORIGENS DO RITO FRANCÊS-MODERNO

Precisar a origem do RITO FRANCÊS exige situá-lo no contexto dos demais.

DANIEL LIGOU sustenta a uniformidade dos ritos no início da Maçonaria francesa, ao afirmar que os seus usos gerais não apresentavam divergências notáveis, daí não se poder falar de ritos na Maçonaria da época.(1)

O RITO FRANCÊS é praticado ao lado do RITO EMULAÇÃO, ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, ESCOCÊS RETIFICADO, etc... Ele não aparece em França antes dos últimos anos do século XVIII.

Neste período e inpicio do século XIX em diante, o RITO FRANCÊS designava o sistema praticado pelo GRANDE ORIENTE DE FRANÇA, sistema que foi adotado em 1785 para os graus simbólicos: Aprendiz, Companheiro e Mestre e em 1786 para os chamados "Altos Graus".


De acordo com o que apuramos a denominação de RITO FRANCÊS não aparece nos documentos franceses de 1779 a 1785. A mais antiga referência, que chegou ao nosso conhecimento, se encontra em um processo de uma deliberação do GRANDE ORIENTE DE FRANÇA, datada de 25/12/1799, referente à constituição de uma Loja no Oriente de Nova Iorque sob o RITO FRANCÊS.

Parece, entretanto, que o nome não vingou nesta data, pois uma outra deliberação, datada de 24/03/1800, fala simplesmente de REGIME DO GRANDE ORIENTE.

No século XIX, o RITO FRANCÊS será igualmente MODERNO. No "Guide de Maçons Ecossais" ou "Cahier des trois grades symboliques du Rit(2) Ancien et Accepté" lemos: "A Maçonaria é conhecida em todo Universo, qualquer que seja sua divisão em dois ritos, que são distinguidos por 'rito antigo' e 'rito moderno'.(3) Contudo, eles repousam sobre as mesmas bases e sobre os mesmos princípios.

Tudo indica que o nome RITO FRANCÊS e depois MODERNO utilizado pelo GRANDE ORIENTE DE FRANÇA em oposição ao nome de RITO ESCOCÊS usado por vários ritos na França do século XVIII, depois com o acréscimo da palavra ANTIGO, adotada mais precisamente pelo RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO no início do século XIX.

Sabemos que a origem do nome ESCOCÊS encontra-se no grau de MESTRE ESCOCÊS, introduzido nos anos de 1740, colado pelos maçõns afiliados às Lojas que tinham adotado este grau. Estas Oficinas o acrescentavam aos graus simbólicos, que eram essencialmente os mesmos em todas as lojas.

Presentement, constatamos diferenças notáveis entre os diferentes ritos praticados pela Maçonaria Universal, mas inegavelmente o RITO FRANCÊS nos parece isento de qualquer influência "estrangeira" na sua formação. Ele simplesmente foi desenvolvido e enriquecido através dos tempos em função do seu dinamismo, favorecido pelo fato de em 1785 não existirem rituais oficiais.

Podemos afirmar, sem medo de errar, que ele representou a melhor prática ritualística das Lojas francesas do século XVIII, sem contudo pretend~e-lo superior aos outros ritos quanto ao conteúdo tradicional e iniciático.



O RITO ESCOCÊS RETIFICADO e o ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO muito devem a esta pra´tica francesa, mas não podemos negar que estes sofreram diversas influências estrangeiras a que o RITO FRANCÊS ficou imune.



O ESCOCÊS RETIFICADO sofreu influência diretra da ESTRITA OBSERVÂNCIA TEMPLÁRIA ALEMÃ e de MARTINEZ DE PASQUALLY na sua ritualística. Quanto ao ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, recebeu influência direta da Maçonaria inglesa dos 'ANTIGOS", vinda provavelmente por intermédio dos Estados Unidos da América.



Atualmente praticamos o RITO FRANCÊS distanciado dos rituais oficiais adotado pelo GRANDE ORIENTE DE FRANÇA, em 1785 e no REGULADOR DO MAÇOM em 1801.



Assim, colocar o problema das origens do RITO FRANCÊS, é colocar o problema das práticas que tinham cusro na Maçonaria francesa no seu início e, de outro modo, compreender o desenvolvimento dado ao rito acorde com as suas características e escopo todo particular.


Não podemos falar sobre as origens do RITO FRANCÊS sem abordar o nascimento da Maçonaria na França.



Um Sistema maçônico, muito interessante, que funcionou na segunda metade do século XVIII, e se chamava RITO ESCOCÊS FILOSÓFICO. Estava subordinado à LOJA MÃE ESCOCESA DA FRANÇA ou ORIENTE DE PARIS. Esta não era outra senão a LOJA DO CONTRATO SOCIAL, que tinha recebido em 1776 as patentes da LOJA MÃE ESCOCESA ao ORIENTE DE AVINGNON, tendo sido esta última autorizada pela LOJA MÃE ESCOCESA DE MARSEILLE, criada de maneira nebulosa em 1751, fundando sua legitimidade numa patente concedida por um "ESCOCÊS" autêntico chamado GEORGE DUVALNONS.(4) Esta LOJA MÃE, assim como a PERFEITA LOJA ESCOCESA AO ORIENTE DE BORDEAUX ao qual era subordinada e da qual descendia, parecem ter sido as primeiras a praticarem um rito "ESCOCÊS". A LOJA MÃE ESCOCESA DE MARSEILLE parece ter, igualmente, introduzido o nome, "escocesismo", conforme pode ser apurado em uma carta endereçada em 1774 pelo seu Venerável ao Venerável da Loja subordinada ao Oriente de Avignon.



Durante os anos que o GRANDE ORIENTE DE FRANÇA estabeleceu o seu próprio sistema(5), surgiu o RITO ESCOCÊS RETIFICADO, praticado até hoje na França. A estre rito parece ter sido inicialmente o nome de ESCOCÊS no sisema dos "Altos Graus".



Parece não haver dúvida de que a denominação de "RITO ESCOCÊS" tem sua origem nestes "Altos Graus". Mas se nos atermos aos graus simbólicos, os rituais "azuis" tal qual eram praticados nos ritos escoceses, veremos que divergiam muito pouco, originalmente , daqueles existentes em outras Lojas francesas e daquelas que o GRANDE ORIENTE DE FRANÇA estabeleceu em 1785. Isto é o que demonstra o exame atento dos rituais do RITO ESCOCÊS FILOSÓFICO, conservado em certos manuscritos de Avignon.



Igualmente podemos nos socorrer nas relações estreitas então existentes entre a Maçonaria francesae a Grande Loja Inglesa, período compreendido entre os anos de 1730 e 1740; pela viagem em 1734 de DESAGULIERS para assistir a u m congresso no hotel de Bussy em Paris; pela viagem, em 1735 do Grão-Mestre inglês, Lord Weimouth para instalar um compatriota, o Duque de Richmond na Loja que ele tinha estabelçecido no seu castelo de Aubigny-sur-Nères. nesta mesma época os franceses de Londres frequentavam a Loja Horn, a mesma que iniciou Montesquieu em 1730 e ao que tudo indica o Cavaleiro Ramsey, futuro Grande Orador da primeira GRANDE LOJA DA FRANÇA.



Em 1751 surge na Inglaterra a GRANDE LOJA DOS "ANTIGOS" que, imediatamente titulou os maçons de 1717 de "MODERNOS", com intenção depreciativa.



Ora, a Maçonaria francesa, ressalvado o desenvolvimento natural dos rituais, manteve-se fiel às práticas dos "MODERNOS" de Londres.



ESTA É A ORIGEM LONGÍNQUA DO NOME "RITO MODERNO" dado ao RITO FRANCÊS pelos maçons do RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, numa intenção muito semelhante àquela dos "ANTIGOS" ingleses.



Portanto, os pontos característicos praticados pela Maçonaria francesa do século XVIII coincidem com os da Grande Loja Inglesa dos "MODERNOS". O uso diferentes observados nos demais ritos citados neste trabalho, correspondem às práticas dos "ANTIGOS", que fizeram prevalecer sua vontade por acasião da união de 1813.



O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO deliberadamente adotou no início do século XIX o uso dos "ANTIGOS".


Pode-se pois, compreender as palavras do Irm.'. EDMOND MAZET, o conjunto da Maçonaria francesa do século XVIII a propósito da LOJA MÃE ESCOCESA DE MARSEILLE.


Como se sabe, a Maçonaria foi introduzida naquele país por volta de 1725 pelos ingleses, emigrados jacobinos(7). Devemos ter um certo cuidado ao afirmar que existia uma Maçonaria Jacobina e uma Hanoveriana que seria representada pela Lojas constituídas alguns anos mais tarde pela Grande Loja Inglesa. Efetivamente é bom ter em mente que a jovem Maçonaria francesa tinha um objetivo político(8), mas nada indica que ela dividiu-se em duas e, primeiramente, em dois ritos. Todas as publicações desde a de Herault em 1737 até a 'MAÇONARIA DESMASCARADA" de 1751, nos olustram sobre os rituais praticados naquela época, monstrando que eles eram bastante uniformes nos graus simbólicos.


Tanto quanto nos seja possivel julgar, estavam conforme àqueles praticados pela GRANDE LOJA INGLESA fundada em 1717. isto é o que se apreende na comparação feita entre as publicações francesas e inglesas, a saber: " A MAÇONARIA DISSECADA" de Prichard(9), muito mal traduzida para o francês em 1738 sob o título de "RECEPÇÃO MISTERIOSA"(tradução nouvelle em TRAVAUX DE VILLARD DE HONNECOURT Nº 8):


"Não se pode falar a propósito da LOJA MÃE DE MARSEILLE de um rito especififamente "escocês" nos graus simbólicos; deicando-se de lado o caso muito particular do RITO ESCOCÊS RETIFICADO, não existia na França uma Maçonaria tipicamente "escocesa" nestes graus, senão no começo do século XIX com o surgimento do RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO que se pode caracterizar sob este ponto de vista como uma antítese da tradição francesa do século XVIII, com a Maçonaria dos "Antigos". nada se encontra neste sentido no que concerne à LOJA MÃE ESCOCESA DE MARSEILLE que a situe no quadro da tradição francesa dos "MODERNOS".


NOTAS:


(1) D. Ligou. Dictionaire de la Franc-Maçonnerie, 2 vol. Ed. de Navarre.


(2) A palavra "Rit" era escrita desta forma: "rit", em 1830 conforme documento citado.


(3) Os estudos do Irm.'. Frèderick Tristan da Loja de pesquisas Villard de Honnecourt, assinalam que as diferenças de rito não são "somente uma questão de forma, mas também uma questão de estilo, cada uma destas formas rituais trazem uma tradição maçônica viva e particular que nos obriga a respeitá-la. Assim é que a palavra RITO se impõe para designar não somente um conjunto formal, mas também a corrente iniciática e simbólica que este conjunto maçônico propõem e recelam a seus membros".


(4) Ver artigo do Irm.'. EDMOND MAZET en TRAVAUX DE VILLAR DE HONNERCOURT nº I. pp 62-78;


(5) Ao redor de 1785;


(6) Ver a este respeito o que escreveu o Irm.'. EDMOND MAZET no artigo citado na nota 4.


(7) Ver P. Chevalier " Histoire de la Franc-Maçonnerie Franceise. Fayard Vol. I pp 4 e seguintes.


(8) A Grande Loja da França parede ter sido fundada pelo Duque de Wharton , antigo Grão-Mestre da Loja Inglesa, que veio para a França em 1728 após ter abraçado o partido dos Stuart. Esta Grande Loja ficou durante alguns anos nos mãos imigrantes jacobinos aos mesmo tempo que a grande Loja Inglesa procurava estabelecer sua autoridade sobre a maçonaria francesa criando ou constituindo suas próprias Lojas. Dentro desta perspectiva, a eleição do Duque de Antin ao Grão-Mestrado em 1738 marca o jogo de dois grupos ingleses, os jacobinos e os londrinos, tentando controlar a Maçonaria francesa. Daí para frente será dirigida por Grão-Mestres franceses.


(9) 1730

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