A Origem Francesa do REAA

A Origem Francesa do REAA


O escocesismo nasceu na França, como Maçonaria stuartista, sendo, na realidade, a primeira manifestação maçônica em território francês. Quando, em 1649, o rei Carlos I (da dinastia dos Stuarts, de origem escocesa) foi decapitado, após a vitória da revolta puritana de Oliver Cromwell, sua viúva, Henriqueta de França, aceitou asilo em território francês, em Saint Germain , para onde foi, acompanhada de todo o seu séquito, onde já existiam numerosos maçons aceitos. Onze anos depois, seria restaurado o trono stuartista na Inglaterra.



Alec Mellor fala em origem jacobita do Rito Escocês, pelo fato de existirem Lojas militares, formadas pelos regimentos fiéis aos Stuarts, ou seja, regimentos irlandeses e escoceses, totalmente jacobitas e, em sua maioria, católicos. Jacobita foi o nome dado, na Inglaterra, após a revolução de 1688, quando houve nova queda de um Stuart (Jaime II), aos partidários da dinastia.

Paul Naudon informa que, em 1661, às vésperas de subir ao trono inglês, Carlos II criou, em Saint Germain, um regimento com o título de Real Irlandês, que, depois, seria alterado para Guardas Irlandeses. Esse regimento, seguindo os Stuarts, foi incluído na capitulação de 1688, desembarcando em Brest, a 9 de outubro de 1689, e permanecendo, até 1698, fora dos quadros militares franceses, quando foi incorporado ao exército francês. Segundo Gustave Bord, o regimento dos Guardas Irlandeses mantinha uma Loja maçônica, cujos documentos chegaram até à atualidade. A 13 de março de 1777, o Grande Oriente da França admitiu que a constituição dessa Loja datava de 25 de março de 1688, sendo, portanto, a única Loja do século XVII, cujos vertígios chegaram até nós (e era uma Loja stuartista).

Jean Baylot situa a fundação da primeira loja stuartista em 1689, em Saint-Germais-en-Laye, sede da corte de Jaime II, pelo regimento irlandês Walsh de infantaria, enquanto a segunda teria sido criada em Arras, pelo dignitário inglês lord Penbrocke. Embora alguns autores que só existem lendas, em torno dessa Loja de 1689, Chevalier descobriu, por um documento manuscrito, de 1735, a confirmação do estabelecimento dos Stuarts, em Saint Germais, em 1689. Assim, a existência dessa Loja torna-se palusível, considerando-se a importância da população escocesa que emigrou, com a corte de Jaime II. O certo é que, depois da fundação da Premier Grand Lodge, desenvolveram-se na França, dosi ramos distintos da Maçonaria: um inglês, dependente da Grande Loja, e outro "escocês", livre do sistema obediencial, inicialmente.

Na realidade, em 1717, podia-se falar num "sistema escocês", e não num rito, pois isso só aconteceria com a introdução dos Altos graus, suma característica do escocesismo, nascida do desejo de aristocratizar a Ordem maçônica. E o sistema acabou sendo chamado de escocês, sem ter uma ligação evidente com a Escócia (a não ser indiretamente, através dos stuartistas). Le Forestier crê que o termo "escocês" representa uma inspiração direta do discurso de Ramsey, de 1737, já que este afirma que a Ordem maçônica conservou, na Escócia todo o seu esplendor, numa época em que, em outros locais, ela caia na mais profunda decadência. Essa explicação, todavia, segundo Mellor, parece insustentável, pois o discurso é de 1737 e existem provas de que já havia um grau chamado de "Mestre Escocês", que já era praticado em 1735, daí a origem do termo. Oswald Wirth concorda com a existência desse grau de "Mestre Escocês" e tece considerações sobre ele.

O termo "escocês", a partir daí, passou a designar as sessões locais de uma vasta organização política, acabando por se generalizar; e, de nome nacional, tornou-se sinônimo de uma organização política. Para Mellor, pode-se presumir que isso aconteceu porque a maioria dos fiéis jacobitas era constituída por escoceses, o que acabou por fazer com que todos os jacobitas fossem chamados de escoceses e, assim, com que o termo passase a ser um rótulo político, ao invés de designar apenas o nascido na Escócia. Dir-se-ia, então, "um escocês", como quem diria, mais tarde --- como cita Mellor --- um "Chouan" (insurreto da Vendéia), para significar um monarquista, ou mesmo um "Vendéen du Midi" (Vendeio do Sul), um "Vendéen Provençal" (Vendeio da Provença), e assim por diante (a guerra da Vendéia foi uma insurreição contra-revolucionária francesa, provocada em 1793, pelos cidadãos da Bretagne, do Poitou e de Anjou).

Em 1758, foi criado, por Pirlet, em Paris, o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente Grande e Soberana Loja Escocesa de São João de Jerusalém, a qual foi a mais importante das potências escocesas, no século XVIII. No mesmo ano, ela criava um sistema de Altos Graus, impondo-lhe o limite de 25, resolução que seria, oficialmente inscrita nos seus estatutos, segundo Mellor, em 1762. Em 1761, Etienne Morin recebia, da seção bordelesa (de Bordéus) do Conselho, uma patente que o autorizava a fundar Lojas dos Altos Graus no Novo Mundo, ou seja, nas Américas. A Maçonaria norte-americana ainda era muito incipiente, pois a sua história tinha menos de 30 anos. Esse rito foi chamado de Rito de Perfeição, ou de Heredom.

No "Diccionario Enciclopedico de la Masoneria", pode-se ler que o conjunto do sistema dos 33 graus do REAA, como se pode ver na Recopilação das Atas do Supremo Conselho da França (por Serier, Paris, 1832) e em outra ata do mesmo Supremo Conselho, de 5 de março de 1813, publicada com o título de Notice sur la Francmaçonnerie et sur l´érection du Suprème Conseil de trente trois grades, assim como em muitos outros documentos, repousa sobre os Estatutos e Regulamentos redigidos em Bordéus, em 1762, pelos deputados delegados pelo Soberano Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente e dos Príncipes do Real Segredo daquela cidade, que havia sido instituído pelo primeiro, em 1759, cujo texto oficial se acha na citada recopilação e na Constituição, Estatutos e Regulamentos para o Governo do Supremo Conselho, atribuídos a Frederico II.

Tanto é verdade, que o rito, cujo primeiro Supremo Conselho foi criado em 1801, em Charleston, Carolina do Sul, EUA, e que foi chamado, inicialmente, de Rito dos Maçons Antigos e Aceitos (apenas), tem 22 graus que são os do Rito de Perfeição, ou de Heredon. E são os seguintes os graus do Heredom:

Primeira Classe

1. Aprendiz - 2. Companheiro - 3. Mestre

Segunda Classe

4. Mestre Eleito - 5. Mestre Perfeito - 6. Secretário Íntimo - 7. Intendente dos Edifícios - 8. Preboste e Juiz.

Terceira Classe

9. Mestre Eleito dos Nove - 10. Mestre Eleito dos Quinze - 11. Ilustre Eleito das Doze Tribos.

Quarta Classe

12. Grande Mestre Arquiteto - 13.Cavaleiro Real Arco - 14. Grande Eleito, Antigo Mestre Perfeito

Quinta Classe

15. Cavaleiro da Espada ou do Oriente - 16. Príncipe de Jerusalém - 17. Cavaleiro do Oriente do Ocidente - 18.. Cavaleiro Rosa-Cruz.

Sexta Classe

19. Grande Pontífice, ou Mestre Ad Vitam - 20. Grande Patriarca Noaquita - 20. Grande Mestre da Chave da Maçonaria - 22. Príncipe do Líbano, Cavaleiro Real Acha.

Sétima Classe

23. Cavaleiro do Sol, ou Príncipe Adepto Chefe do Grande Consitório - 24 - Ilustre Cavaleiro Grande Comendador da Águia Branca e Negra, Grande Eleito Kadosh - 25. Mui Ilustre Soberano Príncipe da Maçonaria, Grande Cavaleiro Sublime Comendador do Real Segredo.

Qualquer semelhança com o REAA não é mera coincidência.

Diante do testemunho de pesquisadores acatados em todo o mundo, os quais pesquisaram "in loco" , seria uma heresia histórica afirmar que o REAA não tem origem francesa, mas, sim, norte-americana, ou inglesa. Mais do que isso, seria ficar na contramão do mundo.



José Castellani



Bibliografia:

Baylot, J. - Dossier Français de la Franc-Maçonnerie Réguliére - Paris - 1965

Bord, G. - La Franc-Maçonnerie en France des origines à 1815 - Paris - 1908

Findel, J.G. - Histoire de la Franc-Maçonnerie - tradução francesa em dois volumes - Paris - 1866 (1a. ed.)

Lantoine, A. - Le Rite Écossais Ancien et Accepté - Paris - 1930

Le Forestier, R. - L´Occultime et la Franc-Maçonnerie Écossaise - Paris - 1928

Mellor, A. - La Franc-Maçonnerie à l´Heure du Choix - Paris - 1963

Naudon, P. - La Franc-Maçonnerie - Paris - 1963

- Les Origines Religieuses et Corporatives de la Franc-Maçonnerie - Paris -1953

Preuss, A. - Étude sur la Franc-Maçonnerie Américaine - Paris - 1908

Vibert, L. - La Franc-Maçonnerie avant l´existence des Grands Loges - edição francesa - Paris - 1948

Wirth, O. - La Franc-Maçonnerie Rendue Intelligible à ses Adepts - Paris - 1931

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